O Sangue nos Umbrais


“Então tomai um molho de hissopo, e molhai-o no sangue que estiver na bacia, e passai-o na verga da porta, e em ambas as ombreiras, do sangue que estiver na bacia; porém nenhum de vós saia da porta da sua casa até à manhã. Porque o SENHOR passará para ferir aos egípcios, porém quando vir o sangue na verga da porta, e em ambas as ombreiras, o SENHOR passará aquela porta, e não deixará o destruidor entrar em vossas casas, para vos ferir.” – Êxodo 12.22-23



INTRODUÇÃO


    O texto que acabamos de ler nos leva ao momento em que Deus prepara o povo de Israel para passar pelo pior episódio da história do Egito antigo: a última praga. Deus havia enviado Moisés e Arão diversas vezes à presença do Faraó para que ele libertasse o povo de seu cativeiro; porém, a Palavra de Deus nos declara que o coração do monarca foi endurecido repetidamente, mesmo após todos os avisos do Senhor sobre as consequências que estavam por vir.


    Muitas vezes agimos como o Faraó. Às vezes estamos passando por momentos difíceis em nossas vidas e perguntamos a Deus o “por quê” de tantas coisas ruins nos atingirem: desilusões, abandono, casamento desfeito, crise financeira, doenças crônicas. Esquecemos que Deus sempre nos avisa das consequências antes que elas aconteçam, mas a dureza do nosso coração acaba cegando nosso entendimento para as lições espirituais que o Espírito Santo tenta nos ensinar.


    Naquele dia, Deus preparava Seu último julgamento sobre o império egípcio: a morte dos primogênitos. O aviso foi claro: a família que tivesse o sangue do cordeiro aspergido nos umbrais da porta seria poupada da ação do anjo da morte.



CONTEXTO HISTÓRICO


    A palavra-chave para este grande evento é libertação. Antes da libertação do povo judeu das garras do império egípcio, Deus ensinou uma maravilhosa lição espiritual que atravessaria gerações: a Páscoa.


    Após a nona praga que assolou a terra do Egito, Deus disse a Moisés que aquele momento seria o princípio dos meses; é em Êxodo 12 que se iniciam os meses do calendário judaico. A instrução consistia em que, no dia 10 de março (Nissan), cada família deveria separar um cordeiro sem mácula e colocá-lo em observação até o dia 14 de março, para ter certeza de que ele não tinha nenhum defeito. 


    No dia 14 de março, após certificarem que o cordeiro não tinha mancha ou mácula, o povo preparava o sacrifício às 9h da manhã. Em seguida, sacrificavam o cordeiro às 15h para concluir a Páscoa antes das 18h, quando se iniciaria um novo dia.


    Durante esse processo, toda família deveria coletar o sangue do cordeiro em uma bacia e aspergi-lo com hissopo nos umbrais da porta. Assim, quando o anjo da morte passasse à meia-noite e visse o sangue do cordeiro, ele passaria por cima da casa sem executar o juízo de morte. Esta festa deveria ser repetida ano após ano, por estatuto perpétuo.


    Tudo que Deus faz e institui não é por acaso; tudo tem um propósito. Minha vida tem um propósito, a sua vida tem um propósito, nossa família tem um propósito, a igreja tem um propósito, nossa campanha tem um propósito. Com a Páscoa não foi diferente: Deus estabeleceu um estatuto perpétuo para que os judeus repetissem aquele sacrifício anualmente até que viesse o verdadeiro Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. E assim eles fizeram, ano após ano.



CONTEXTO PROFÉTICO


    Após 1.600 anos repetindo o mesmo ritual de sacrificar o cordeiro sem mácula e esperando, pela fé, o verdadeiro Cordeiro de Deus, o povo escolhido estava no templo se preparando para mais uma Páscoa quando o bendito Cordeiro chegou — mas eles não perceberam:


“E estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. E achou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombos, e os cambistas assentados. E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambistas e derribou as mesas. E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda.” – João 2.13-16.

 

    O texto nos mostra que o povo de Deus ia à casa do Senhor como se fosse um momento de recreação, um evento social para se distrair e encontrar velhos amigos. Outros usavam a casa de Deus para benefício próprio, transformando o templo em uma verdadeira casa de comércio. Da mesma forma, hoje vemos parte do povo indo ao templo apenas para bater papo, ver amigos, exibir a roupa nova, vender produtos e até cadeiras da igreja. Eu mesmo cansei de ver jovens e adultos conversando durante o culto sobre futebol, lutas, fofocas e tudo mais — menos sobre a palavra pregada naquela noite.


    No dia 9 de março, Jesus foi a Betânia e realizou um de seus maiores milagres: a ressurreição de Lázaro. No dia 10 de março, entrou em Jerusalém montado em um jumentinho, recebido com ramos e aclamações de “Hosana! Bendito o Rei de Israel que vem em nome do Senhor”.


    O povo não percebeu, mas aquela Páscoa seria diferente de todas, pois o verdadeiro Cordeiro estava ali, sendo separado para análise no dia 10 de março. Todos os olhares estavam sobre Ele, procurando alguma mácula — e não encontraram.


    Anás, Caifás, Herodes, Pilatos… ninguém achou falha no Cordeiro. Mas ali se cumpria a maior profecia de todos os tempos: o Cordeiro foi separado no dia 10 de março e sacrificado no dia 14, às 15h, quando Jesus declarou: “Está consumado.”



APLICAÇÃO EM TRÊS PASSOS


Primeiro passo: mexa-se!


Desde aquele grande dia, o sangue do Cordeiro está disponível para todos nós, mas o texto do Êxodo nos ensina que não basta o sangue estar na bacia — é preciso aplicar. Todos nós esperamos que um milagre, bênção, cura ou unção chegue à nossa porta, mas precisamos tomar o “hissopo da fé” e aplicar o sangue na porta da nossa casa, da nossa família e do nosso ministério. Jesus não vai fazer isso por você.



Segundo passo: enfrente o problema.


Satanás tenta nos amedrontar dizendo que é nosso dono, que pode entrar na nossa casa e nos tocar; tenta trazer lixo do passado, tentando nos desanimar. Mas, se andarmos na luz, o sangue de Jesus nos purifica de todo pecado. Se nossa casa antes pertencia ao Egito, agora ela tem o sangue do Cordeiro nos umbrais.



Terceiro passo: faça para Deus ver.


“Vendo Eu o sangue, passarei sobre vós.”


  A família dentro da casa não podia ver o sangue — mas Deus via. Muitas vezes somos tentados a viver para agradar os outros, mas Jesus nos ensinou a praticar nossa devoção no secreto, e Ele nos recompensará. Deus é quem precisa ver o sangue, não nós.


O sangue está disponível. Cabe a nós decidir se vamos aplicá-lo ou deixá-lo na bacia. Deus é maravilhoso, e Suas misericórdias duram para sempre.



Julio Celestino - Vitória, Espírito Santo

20 de junho de 2024



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