Não murmures, canta!

 

Foto de Juan Pablo Serrano Arenas

“Como é bom render graças ao Senhor e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo; anunciar de manhã o teu amor leal e de noite a tua fidelidade.” - Salmos 92.1,2

 

Ontem, mais uma vez, Deus me mostrou o quanto sou afortunado, mesmo que às vezes eu pense o contrário acerca da minha vida. Eu estava trabalhando no ambulatório e uma mãe chegou de Uber com seu filho de aproximadamente 17 anos que sofre Síndrome de West e hemofilia. Para ajudá-la na mobilidade com o jovem, outro filho a acompanhou.

 

Com dificuldade, desceram do carro e subiram os degraus da clínica. O jovem andava trôpego, mal conseguia ficar de pé sem o apoio da família. Ele não fala e, aparentemente, também não consegue se comunicar bem via gestos. Foi preciso a ajuda de duas enfermeiras, mais a mãe e o irmão, para segurá-lo na cadeira de coleta e retirar o sangue necessário para o exame. Os gritos do jovem eram angustiantes. Após a retirada do sangue, eles voltaram para o setor de espera. Para mim, era impossível não se emocionar com os olhos marejados de lágrimas da mãe e o pesar do irmão que levou o jovem enfermo para passear e se acalmar no jardim.

 

Durante os últimos sete meses, tive a oportunidade de conhecer histórias de pessoas que vivem com a enfermidade todos os dias. Pessoas que embarcam em um carro da prefeitura de sua cidade às duas ou três horas da madrugada para enfrentar uma viagem de três ou quatro horas toda semana para levar seu bebê em um ambulatório que fica na capital do estado. Eles ficam o dia inteiro na rua, pois o carro da prefeitura precisa desembarcar os pacientes de outros hospitais e aguardar todas as consultas agendadas no período matutino e vespertino para só então recolhê-los no fim da tarde e enfrentar a viagem de volta. Muitos não têm condições financeiras para se alimentar corretamente nessas viagens, alguns almoçam biscoitos com o suco artificial que ganham nos ambulatórios.

 

Muitas vezes eu, minha família e alguns amigos reclamamos do preço dos produtos do supermercado, a dificuldade em pagar as contas e sobre o desapontamento de querer coisas como carro, moto, casa própria, viagens, celular de última geração e uma roupa nova para cada saída. Essa energia negativa acaba atingindo todas as áreas de nossa vida, nos deixando mais amargos e sozinhos. Assim não conseguimos enxergar as coisas simples e boas que Deus nos proporcionou.

 

Aquele jovem nunca vai poder reclamar dos preços do supermercado, pois nunca terá capacidade cognitiva para saber o que está caro e o que está barato. Pior do que isso, ele nunca terá dó de gastar seu dinheiro suado, pois ele nunca vai trabalhar devido à sua incapacidade física. Ele jamais terá o desprazer de estar apertado nas finanças de casa e da família, pois ele jamais terá condições de constituir uma família como uma pessoa saudável. Ele jamais ficará triste por não ter um carro ou uma moto, porque ele sequer consegue andar com as próprias pernas.

 

De igual modo, refleti sobre o peso da cruz daquela mãe, que, enquanto escrevo este texto, ao invés de ela estar triste com as finanças ou a falta de carros, motos, roupas e viagens, ela só queria que seu filho amado tivesse condições de viver uma vida normal como os outros rapazes, mas, infelizmente isso é apenas um sonho. Já para mim, isso não é um sonho, é algo absolutamente normal. Meus filhos nasceram plenamente saudáveis. O problema é que de maneira generalizada, nos esquecemos dos milagres que vivemos todos os dias em nossa vida, por terem se tornado comuns, como a saúde, alimento diário, filhos saudáveis, um teto para morar, um emprego e principalmente a fé num Deus vivo.

 

O hino 302 da Harpa Cristã descreve e aconselha bem sobre este assunto:

 

“No mundo murmura-se tanto

Entre os que cristãos dizem ser

Em vez de louvores, há pranto

Fraqueza em lugar de poder

Murmuraram assim no deserto

Em Mara, Israel murmurou

Não veem que Deus está perto

Jamais seu auxílio negou

 

Em vez de murmurares, canta

Um hino de louvor a Deus

Jesus quer te dar vida santa

Qual noiva levar-te pra os céus

 

Tu vives, irmão, murmurando

Tal como um escravo do mal

Se Deus a tua fé está provando

Tu não tens razão para tal

Deus castiga aquele a quem ama

De ti também não se esqueceu

Qual pai amoroso te chama

E cuida, sim, do que é seu

 

E mesmo se as ondas rugirem

No revolto e bravio mar

Os céus poderás ver se abrirem

Se um hino tua alma cantar

Não temas ciladas, nem morte

Pra cima tu deves olhar

O leme segura bem forte

Até do céu a luz raiar

 

Se um hino cantar tu puderes

Nas horas de grande aflição

Então voarás, se quiseres

Até a celeste mansão

Nas asas da águia levado

Bem perto do mar de cristal

E por fim então libertado

A terra, chegar, celestial

 

Em vez de murmurares, canta

Um hino de louvor a Deus

Jesus quer te dar vida santa

Qual noiva levar-te pra os céus.”

 

Exortemo-nos a sermos mais gratos a Deus pelas coisas pequenas. Jesus nos ensinou: “Bem está, bom e fiel servo. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei” (Mt 25.23). A prosperidade é uma questão de fidelidade, dedicação, tempo e fé. Cedo ou tarde, se ainda não chegou ou se já esteve e não mais está, através das portas da gratidão, poderemos conquistá-la. Não murmures, canta!

Depressão

Foto de Gabriela Palai


Texto áureo: “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.” – Filipenses 4.6-7, ACF.

 

Depressão e Suicídio: entender, superar e ajudar. Este é o tema da breve palestra que foi ministrada aos jovens e adolescentes da igreja Assembleia de Deus de Maruípe no dia 18 de setembro de 2020. Grande parte do conteúdo foi retirado do livro de Zack Eswine intitulado “A Depressão de Spurgeon”, lançado em 2015 pela editora Fiel.

 

O QUE É DEPRESSÃO?

 

Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde [OPAS] a depressão é “um transtorno mental caracterizado por tristeza persistente e pela perda de interesse em atividades que normalmente são prazerosas, acompanhadas da incapacidade de realizar atividades diárias [...]”. Conforme a OPAS, as pessoas com depressão podem apresentar vários sintomas como “perda de energia; mudanças no apetite; aumento ou redução do sono; ansiedade; perda de concentração; indecisão; inquietude; sensação de que não valem nada, culpa ou desesperança; e pensamentos de suicídio ou de causar danos a si mesmas”. É oportuno destacar que a organização citada afirma que a depressão pode afetar qualquer pessoa, e isto não se trata de um sinal de fraqueza ou popularmente intitulado de “frescura”.

A depressão também pode ser ilustrada de forma simplista com as placas de “depressão na pista”. Essas placas ilustram bem como funciona a depressão na vida de alguém, pois, quando estamos dirigindo um veículo e nos deparamos com o alerta de “depressão na pista”, sabemos que haverá um desnível para baixo na estrada. Assim o é na vida de quem sofre de depressão, em determinado momento, há um desnível para baixo.





Um dado interessante é que a depressão só foi reconhecida como doença em meados do século XIX. De acordo com uma matéria publicada no Jornal da USP, somente em 1952 foi lançado o primeiro Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria.  Porém, este mal assola o ser humano há muito mais tempo do que possamos imaginar.

 

QUAIS SÃO AS CAUSAS DA DEPRESSÃO?

 

De acordo com o livro de Zack Eswine, a depressão pode surgir na vida de uma pessoa através de três fatores: biológico, circunstancial e espiritual.

O fator biológico – conforme o site do Ministério da Saúde as causas da depressão podem ser eventos vitais, genéticas e bioquímicas.  O pastor Charles Spurgeon também reconhecia que a depressão, em alguns casos, é causada pelo fator biológico, afirmando que “algumas pessoas são constitucionalmente tristes. Às vezes somos marcados pela melancolia desde o momento de nosso nascimento”.  Por este motivo é necessário que nós, cristãos, tenhamos a consciência de que nem tudo na vida se trata de algo espiritual, pode ser doença. A OPAS afirma que a depressão é um transtorno tratável por meio de psicoterapia, medicamentos antidepressivos ou a combinação de ambos.

O fator circunstancial – como foi citado acima, o Ministério da Saúde afirma que a depressão pode ser causada por eventos vitais, ou como preferimos abordar nesta palestra, causas circunstanciais. O fator circunstancial indica que uma pessoa acometida de depressão não chega a esta situação devido a sua natureza ou temperamento melancólico, eventos como a perda de um familiar, demissão, problemas financeiros, traição de um cônjuge, problemas familiares, descontentamento com o próprio corpo, sonhos frustrados dentre várias outras circunstâncias podem causar depressão. Este mal surge até mesmo após um momento lindo como o nascimento de uma criança, conhecida como depressão pós-parto. Sobre isto, Eswine diz que o fator circunstancial nos ensina que: 1) a fé na terra não é nem escapismo, nem paraíso, 2) não equiparamos benção espirituais com comodidade circunstancial e 3) nós que não sofremos depressão circunstancial devemos aprender o cuidado pastoral para com aqueles que sofrem. 

O fator espiritual – Eswine descreve que “essa forma de depressão aflige pessoas, a qualquer momento, com terrores conscientes e irreversíveis acerca do desagrado de Deus. Ou ainda, aqueles que, sofrendo esse tipo de depressão, usam atos extremos de devoção religiosa a ponto de machucarem a si próprio e a outros”. Para a pessoa com este tipo de depressão, Deus tem amor, paz e graça para os outros, menos para ela. Também acredita que devido a algum pecado ou qualquer outro motivo, Deus não a ama mais, está desamparada, esquecida, etc. Segundo Eswine, alguns pregadores acabam piorando a situação do deprimido, presumindo que toda depressão se trata de um pecado. Em alguns casos, o pregador peca por associar a prosperidade financeira e a saúde com sua fidelidade a Jesus. Por vezes, um servo ou uma serva do Senhor que passa por problemas circunstanciais, se vê de frente a uma mensagem que afirma que se formos fiéis a Jesus, seremos abundantemente ricos e saudáveis. Por essas e outras, o servo de Jesus que passa por problemas na área da saúde ou financeiro, acaba acreditando que Deus o abandonou em seus infortúnios, e isso não é verdade! Sobre isto, escreveu o Pregador de Eclesiastes: “Tudo sucede igualmente a todos; o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao puro, como ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento”.  O autor de Eclesiastes estava falando sobre o que chamamos de “graça comum”, ou seja, a graça que Deus disponibiliza a todos! De forma simples, o Pregador estava dizendo que o mesmo sol que brilha sobre a igreja, brilha sobre um presídio; e a mesma chuva que cai sobre uma casa de família também cai sobre um bar. É preciso ser cauteloso com o uso da língua, até mesmo na hora de testemunhar as bençãos de Deus em nossas vidas. Dentro do fator espiritual, também existe a possibilidade de uma influência maligna, e segundo Eswine, “quando nos deparamos com este antigo inimigo, o diabo, resta apenas uma coisa que podemos e devemos fazer: lutar!”.  Usando a armadura espiritual descrita em Efésio capítulo 6 podemos vencer! Eswine diz que “nosso jeito de lutar é nos escondermos atrás de Jesus que luta por nós. Nossa esperança não é a ausência de nosso pesar, ou sofrimento, ou dúvida, ou lamento, mas a presença de Jesus”.

 

COMPORTAMENTOS QUE ATRAPALHAM

 

Existem alguns comportamentos que, mesmo com a melhor das intenções, podem piorar a situação de quem sofre com depressão. Frases como “pare de bobagem, a vida é bela, sacode a poeira e recupera-se!” e “para de frescura!”, são como empurrões que lançam o sofredor ainda mais fundo no mar da angústia.  Textos bíblicos dispensados de qualquer maneira também não servem de ajuda para o aflito, às vezes pode até piorar a situação, fazendo-o acreditar que se não está sentindo nada lendo trechos da Palavra, Deus o abandonou. O desprezo e a indiferença também são comportamentos que atrapalham, geralmente, amigos e familiares acabam desprezando a dor do deprimido dizendo coisas como: “seu problema nem é tão grave assim, para mim você está sofrendo à toa”, ou pensando: “daqui a pouco passa, para que vou me preocupar?”. É preciso termos cautela e amor para com os aflitos e evitar tais julgamentos para não sermos as mãos que jogam gasolina em cima do fogo da melancolia tentando apagá-lo.

 

SEGUINDO O EXEMPLO DE DEUS

 

O primeiro livro dos Reis, capítulo 19, nos mostra uma boa forma de tratar alguém que sofre neste pântano sombrio. O texto descreve o momento em que o profeta Elias sofre uma profunda depressão. Mesmo Deus tendo realizado diversos milagres e maravilhas na vida deste homem, ao ser ameaçado de morte por Jezabel, esposa do rei, ele fugiu temendo pela sua vida e clamou a Deus pela sua morte quando suas forças acabaram, mas, o Senhor não o abandonou.

Finalizo este esboço mostrando a você, caro leitor, como é importante aprendermos com Deus a maneira correta de lidar com pessoas depressivas:


· Elias fugiu para o deserto, se abrigou debaixo de um zimbro, pediu a morte e adormeceu. Isso nos mostra, em primeiro lugar, que o aflito precisa de descanso.


· Em seguida, um anjo o alimentou com pão e água e ele dormiu de novo. Este gesto nos ensina que nosso tratamento para com os angustiados demanda tempo, amor e cuidado. É preciso ter paciência para alimentá-los com amor.


· Após descansar mais um pouco, o anjo repetiu todo o gesto de amor, e isso renovou as forças do profeta para continuar na caminhada.


Amor, paciência e cuidado são palavras-chave no cuidado de Deus para com Elias, e é assim que devemos tratar os que sofrem com a depressão. Que Deus nos abençoe e nos dê estratégias para ajudar a quem precisa. E se você que está lendo sofre deste mal, procure ajuda médica, converse com um amigo de confiança e acima de tudo, confie em Deus. Você não está sozinho(a) nessa!

 

 

 

Julio Celestino

16 de setembro de 2020, Vitória, Espírito Santo.

Culto sem hora para acabar?

 



          Pela graça e misericórdia do Senhor Jesus Cristo, tive a chance de pregar a sua palavra por diversas e diversas vezes. Alguns irmãos brincavam comigo dizendo que eu demoro demais para terminar a oração, logo, eu nunca era solicitado para orar antes de uma refeição.

 

Brincadeiras à parte, sempre tive a preocupação de cumprir o horário das reuniões eclesiásticas, pois a igreja agrega pessoas de diferentes profissões e afazeres pessoais, por exemplo: um casal de feirantes que acordou às três horas da madrugada de domingo para preparar sua barraca de legumes na avenida central. Com muito zelo, passaram o dia trabalhando num calor e correram para a igreja com seus filhos ao anoitecer.

 

Ao lado do casal de feirantes, há um jovem solteiro que mora sozinho e trabalha em escala 12x36, ele é o pregador escalado da noite.

 

Ao lado do jovem pregador, há uma mãe solteira que, após um dia de trabalho, deixou seu casal de filhos com um parente, prometendo voltar para buscá-los em duas horas porque precisava buscar uma bênção na casa do Pai.

 

Para a surpresa de todos, na hora da Palavra, o jovem e descansado pregador resolveu seguir o exemplo de Esdras e Paulo naquela noite. Eu explico:

 

Um dia, um escriba chamado Esdras leu os cinco primeiros livros da Bíblia em praça pública desde o amanhecer até meio-dia (Ne 8.3). Dias depois, ele participou de um culto que teve seis horas de leitura da Palavra seguidas de seis horas de adoração, ou seja, doze horas de culto (Ne 9.3)!

 

Outro dia, o apóstolo Paulo pregou tanto que um jovem sentado na janela cochilou, caiu e morreu (já era meia-noite). Graças a Deus, a história não teve um final triste, pois o Espírito Santo ressuscitou o jovem através da fé de Paulo. Após o ocorrido, Paulo continuou pregando até amanhecer (At 20.7-11).

 

Diante dos exemplos de Esdras e Paulo, posso dizer que é válido estender um culto por tempo indeterminado? Creio que este comportamento não deve virar um costume por quatro motivos: 1) No tempo de Esdras e de Paulo, das duas uma: ou eles iniciaram o culto com hora de término determinada, ou não prometeram horário nenhum. Certamente, os irmãos presentes sabiam de antemão se o culto tinha horário para acabar ou não. 2) Quando falamos de Esdras (458 a.C.) e Paulo (10 d.C.), estamos remontando cenários com mais de dois mil anos. A organização das reuniões e a profissão/afazeres das pessoas eram completamente diferentes das de hoje. Um trabalhador assalariado com pais doentes em casa e filhos pequenos não conseguiria por muitas vezes participar de cultos de doze horas como o de Esdras ou ouvir uma pregação que começou num dia e terminou em outro, como a de Paulo.  3) Quando estabelecemos um horário de duração para o culto, isto se torna um compromisso com os membros e visitantes. Se convidarmos parentes e amigos para participar de cultos que deveriam acabar às 21:30, mas se estendem até meia-noite, não cumprimos com nossa palavra e quebramos o princípio da ordem (1Co 14.40). 4) Por uma questão de empatia com o próximo. Às vezes, eu sou um jovem solteiro que acordou meio-dia no domingo, mas meu irmão é o feirante que acordou de madrugada e foi trabalhar. Ninguém tem a vida igual a minha, eu não sei quais são as tarefas e dificuldades dos meus ouvintes num culto. Praticar a empatia pode ser uma forma de amor ao próximo (Mt 22.39).

 

Resumindo, há algum problema em cultos sem hora para acabar? Nenhum! Desde que os convidados saibam que naquela igreja é assim que se sucede. Caso contrário, creio que deva se cumprir o princípio da ordem (1Co 14.40). 

Livro: Eu, A Raiz Exposta do Pecado - Steve Gallagher

 


    No livro A Raiz Exposta do Pecado, Steve Gallagher se aprofunda no tema intrínseco do ser humano, e talvez, o principal dos pecados: o ego. No livro Amantes de si mesmos, Dave Hunt declara acertadamente que a ideia moderna de que devemos “nos amar mais” não é amparada pela bíblia. Na verdade, não há nenhum mandamento bíblico dizendo que devemos nos amar. O mandamento bíblico basilar sobre o amor está situado no evangelho segundo Mateus 22.37-39 que diz: “(...) Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Após uma atenciosa leitura da palavra de Deus, constatamos que não há mandamento para se amar, isso se dá pelo fato de que o ser humano naturalmente se ama. Até mesmo aqueles que intentaram contra a própria vida se amam, pois, a frustração de não ter a vida que gostariam os fazem desistir de viver.

 
Partindo deste pressuposto, o livro de Gallagher é dividido em três sessões: 1) O grande reino do Eu; 2) Os tipos de orgulho e 3) O reino da humildade. O objetivo da obra é expor o pecado que está enraizado na natureza de todo filho de Adão; pecado este que começou no céu com o querubim ungido e se propaga na terra como uma pandemia destruidora: o orgulho. De acordo com Steve Gallagher quase tudo em nossa cultura agrada ao ego ou o incita: entretenimento, propaganda, mídia, meio acadêmico, negócios e a vida em casa. Nestes tempos, tudo tem como foco a imagem e as realizações pessoais. Isso, por sua vez, gera uma pressão esmagadora para superarmos o nosso próximo - sendo mais inteligente, mais forte, mais capaz, mais atraente e mais rico. Em um ambiente que exalta e glorifica os feitos, a força e a beleza, as crianças aprendem rapidamente o quanto é bom ser enaltecido, assim como machuca ser criticado ou não notado. Elas são ensinadas a serem orgulhosas de si mesmas e de suas habilidades. Essa mentalidade é reforçada a cada estágio do desenvolvimento até a vida adulta.
 
“Quando uma pessoa se rende a determinado hábito pecaminoso, uma contaminação espiritual trabalha em sua constituição” - Gallagher
 
    Portanto, na sessão do grande reino do Eu, Gallagher expõe biblicamente como o mundo é dominado pelo orgulho excessivo e como isso tem destruído anjos, pessoas, ministérios e famílias inteiras. Na segunda sessão é mostrado vários tipos de orgulho que provavelmente, durante a leitura, nos identificamos com alguns deles. Eu, por exemplo, me identifiquei numa área defeituosa que nunca havia percebido antes, no momento que Gallagher fala sobre o orgulho inacessível, ou seja, pessoas que tem o coração inacessível: “não se trata de temperamento, mas, sim, do estado do coração. Em suma, esse indivíduo odeia ser corrigido de qualquer modo. Ele fica notavelmente tenso quando é alertado sobre áreas de sua vida que precisam de mudança. Esse indivíduo se isola tanto de relacionamentos quanto de situações em que possa receber críticas ou aconselhamentos. Ele geralmente o faz com sutileza, muitas vezes por meio de atitudes desagradáveis, voltadas para afastar os outros em primeiro lugar. Ele controla rigidamente o quanto outros podem se aproximar dele, bem como os assuntos da conversa”. Já na terceira sessão, Gallagher nos apresenta o reino da humildade, atributo gracioso que agrada a Deus. Com conselhos e dicas práticas, o livro nos ensina como vencer o pecado do orgulho que existe em nosso coração e buscar a excelência através da humildade de espírito e dependência total de Deus. Algo que muito tocou meu coração foi no tópico “servindo a si” quando ele conta a história de um homem que entrou no Pure Life Ministries (Ministérios Vida Pura) para o tratamento de seu pecado sexual, porém, mesmo depois de algum tempo e já ministrando a palavra de Deus, ele não conseguia abandonar o pecado sexual. Após uma conversa pessoal com Gallagher, o rapaz decidiu sair do Ministérios Vida Pura para “crescer sozinho” e alimentar seu ego; sem sucesso, infelizmente (ou felizmente). Então, citando Whatman Nee, Gallagher tocou meu coração ao reproduzir que ninguém está apto para trabalhar apenas porque aprendeu alguns ensinamentos. A questão básica permanece: que tipo de pessoa é esse homem? Pode aquele cujos mecanismos internos são errados, mas cujo ensinamento é correto, atender à demanda da igreja? A lição básica que devemos aprender é ser transformado em um vaso perfeito para o uso do Mestre. Isso só pode ser feito por meio do quebrantamento. Ler esse trecho do livro, além de me advertir profundamente, lembrei-me do que escreveu A. -D. Sertillanges em seu livro “A Vida Intelectual”, ao advertir o leitor sobre a necessidade de ser uma pessoa com moral trabalhada em virtudes, ou, no popular: viver o que se prega. De acordo com ele, não haveria coisa mais chocante em ver uma descoberta feita por um canalha? A candura de um homem simples ficaria ofendida com isso. Escandalizamo-nos com uma dissociação que ofende a harmonia humana. Não acreditamos nesses joalheiros que vendem pérolas e não as usam. Viver junto da fonte sublime sem participar de sua natureza moral soa como um paradoxo. Isso é uma clara demonstração de ortodoxia e ortopraxia, ou seja, doutrina e prática devem andar juntas.
 
    Eu, como consumidor dos livros do pastor Steve, posso afirmar que o livro é uma ótima ferramenta auxiliar na luta contra o pecado do orgulho e do egoísmo. Em alguns momentos pode ser cansativo ler quase trezentas páginas tratando do mesmo assunto, porém, creio ser necessário conhecer aquilo que combatemos. Eu recomendo com entusiasmo o livro: Eu; A Raiz Exposta do Pecado de Steve Gallagher.

 

A caminho de um governo Global

 

Luiz Philippe de Orleans e Bragança na Câmara dos Deputados em 2019

             Na introdução de seu livro “#antes que apaguem” o político e ativista Luiz Philippe de Orleans e Bragança escreve sobre o atual movimento em prol da censura no mundo pós guerra fria. Interessantíssimo foi ler acerca de sua cosmovisão, especificamente com relação a um movimento (ou vários) que tem por objetivo a criação de um governo global:

 

O quarto fator é a expansão das pautas de política de identidade e do globalismo. Ambas de origem em pensadores marxistas. Alguns exemplos? Os temas de política de identidade envolvem assuntos como gênero, status, origem, raça e as pautas globalistas tratam de tópicos como clima, imigração, saúde, uso de recursos naturais, emprego, industrialização, urbanismo e controle populacional”.

 

E conclui: “Na minha análise, o objetivo final das políticas de identidade, assim como o globalismo, é a criação de um governo global no controle dos meios de produção e de comportamento. No momento em que esta obra está sendo escrita, tanto a política de identidade quanto o globalismo seguem crescendo sem oposição estrutural, senão a de alguns movimentos e líderes nacionais”.

 

Quero compartilhar o que me fez achar esse trecho de seu livro deveras interessante. Bragança não é um cristão protestante e nem um estudioso das profecias bíblicas, é um autêntico católico, mas o que ele está vendo no Brasil e no mundo corrobora em número, gênero e grau com o que diz a profecia bíblica sobre o governo global que se levantará na terra através de Satanás e dois homens misteriosos, a saber, o falso profeta e o anticristo.

 

Diz a profecia que durante este período o anticristo e o falso profeta trarão paz à Terra (Dn 9.27), farão maravilhas em nosso meio (Ap 13.13) e serão louvados por todo mundo (Ap 13.8). No governo do Anticristo haverá um só poder econômico (Ap 13.16-17), todos serão marcados com uma identidade (sinal) com a finalidade de demonstrar pertencimento a determinado grupo (Ap 13.16). Quem ousar se levantar contra este governo, em palavras ou ações, será destruído e o povo “do bem” fará festa com a morte de quem não compartilha de seus ideais (Ap 11.7-10). Curioso não?

 

É importante destacar que isso não se trata de teoria da conspiração ou qualquer outra coisa fantasiosa e especulativa. Não sabemos quem será o anticristo, nem o falso profeta. Não sabemos se eles já nasceram. Fato é que um dia eles aparecerão no palco da história do mundo, quem quiser enxergar, já se pode perceber que o campo está sendo preparado para a chegada triunfal (e temporária) da trindade malígna.

 

Se a profecia bíblica fosse um filme de 2023, em seus minutos iniciais certamente estaria a seguinte frase congelada na tela: “Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência”.




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